Meridianos & Paralelos
Um blog de notícias alinhavadas quase sempre à margem das notícias alinhadas
sexta-feira, fevereiro 11, 2005
«Stairway to Heaven»
Morreu Arthur Miller. Tinha 89 anos e era um dos mais notáveis dramaturgos que os americanos tiveram o prazer de conhecer, nos últimos 50 anos. Deixou ao mundo uma das mais encenadas peças de sempre: Morte de Um Caixeiro Viajante. Em 1953, no auge da Guerra Fria, escreveu The Crucible, uma espécie de resposta ao senador McCarthy e à cruzada que o Comité de Actividades Anti-americanas do Congresso realizou contra simpatizantes do comunismo. A ousadia custou-lhe alguns dissabores, e Miller nunca mais teve lugar entre os alinhados. Como quando, em 2001, após o atentado do 11 de Setembro, manifestou publicamente a sua preocupação com as medidas de emergência adotadas pelo governo, nomeadamente a legislação que previa que os não-americanos acusados de ajudar os terroristas inimigos dos Estados Unidos, poderiam ser julgados em tribunais militares. Miller disse, nessa época, que temia a erosão dos direitos civis no seu país e acusou o governo de se estar a aproveitar da situação para aumentar o seu poder sobre o indivíduo. Assim era, Miller: tímido mas terrivelmente perspicaz, a cada vez que tomava o pulso dos acontecimentos do seu tempo. Era magro, desajeitado, reservado. Foi casado com Marilyn Monroe entre 1956 e 1961, embora o mundo nunca tivesse chegado a compreender que estranha combinação de quimícas podia explicar o facto. Sabia-se que sofria de cancro e de problemas cardíacos. O mais grave de todos dava pelo nome de Marilyn: uma doença prolongada que nunca escondeu de ninguém, e da qual se confessava vítima incurável. Recentemente, uma pneumonia apanhou-o na dobra dos 90 anos. Pressentiu a esquina a tempo de lhe ser satisfeito um último desejo: ir morrer onde foi mais feliz. Fizeram-lhe a vontade. Faleceu, esta madrugada, na casa de Connecticut onde viveu com Marilyn, naqueles cinco anos em que estiveram casados.